quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Desabafo do Designer


Não me peça para dar a única coisa que eu tenho para vender”
(Cacilda Becker)


Nós, designers, (bota aí também os ilustradores e artistas) adoramos o que fazemos. Ninguém entra nessa área sem ter, no mínimo, muita paixão pelo que faz.


Nesses quase 23 anos de atuação profissional através do meu próprio estúdio, perdi a conta de quantos clientes, amigos e desconhecidos (!) me pediram logotipos, ilustrações, artes, ‘desenhinhos’ ou ‘pequenos favores’ de graça. A maioria foi delicadamente recusada mas, confesso aqui publicamente meus pecados: já atendi alguns desses pedidos… Tá legal, vou falar a verdade… Já atendi VÁRIOS desses pedidos! (tenho culpa de ter muitos ‘amigos’?) Mas também tenho de dizer que, depois de longo ‘tratamento’ :) já estou quase curado dessa incômoda patologia!

E, não estou falando de filantropia, pois quando identifico trabalhos sociais bem intencionados, faço questão de atender e ajudar. Falo de pedidos sem remuneração, feitos para atender necessidades pessoais, comerciais e corporativas. Coisa que vai gerar retorno, seja de imagem, de público ou até mesmo financeiro.


Ao longo desses anos, esses pedidos assumiram as mais variadas formas e vieram disfarçados sob os mais diversos argumentos.
Seguem os mais comuns:


> Não precisa ter pressa… Quando você tiver cinco minutinhos sobrando você faz…

> No momento a grana está curta, mas assim que der retorno a gente acerta!

> Faça esse trabalho de graça e no próximo eu nem pergunto o preço!

> Pagar eu não posso, mas vou divulgar seu nome para todo mundo!

> Você poderá divulgar seu nome junto com o desenho ou colocar sua assinatura na arte!

> Isso pra você é moleza…

> Tenho um amigo que faz de graça mas quero dar a oportunidade para você!
> É uma parceria: você faz de graça agora e ganha lá na frente!

> Faça uns esboços. Se eu gostar a gente acerta um preço.

> Não precisa ser nada muito caprichado…

> Faz aí depois a gente acerta!

> Ah, mas isso é diversão para você! Você faz brincando!


Todas essas frases e pedidos me levam a acreditar que essas pessoas que pedem coisas de graça acham que:


> Eu não me alimento, não tenho contas para pagar e meu carro é abastecido com ar.

> Meus softwares são de graça e recebo meus computadores e equipamentos como doação.
> Minha conexão de internet é feita através de telepatia.

> Eu desenho por diversão, crio logotipos por prazer e projeto coisas apenas para ocupar o tempo.

> As idéias nascem na cabeça por geração espontânea.

> O Governo não me cobra impostos.

> Acho livros e material de pesquisa na rua (além de não me cobrarem ingressos em exposições e eventos).

> Recebi uma herança (grana pra nunca mais ter de trabalhar!) e resolvi virar uma espécie de ‘Madre Tereza de Calcutá’ do design e da arte, fazendo apenas caridade…

> Meus fornecedores mandam um enorme carregamento de tintas, pincéis e telas todos os meses (de graça!!!) para o estúdio.

> Meu dentista, meu contador, minha faxineira e todos aqueles que prestam serviços para mim, trabalham por prazer, sem cobrar um centavo!


No ‘mundo real’, porém, a matéria prima do meu trabalho é uma equação muito bem balanceada. Ela é composta de TEMPO (um bem muito precioso!), IDÉIAS (fruto de mais de 30 anos de estudo e uma vida inteira de experiências), PROFISSIONALISMO (coisa rara nos tempos atuais) e CONHECIMENTO (resultado de todos os trabalhos feitos até hoje e de MUITA pesquisa).
Isso tudo tem um valor. O valor que, quando é pago, reverte em benefícios enormes para quem me contrata, gerando muito retorno institucional e financeiro.


Design e arte não são caros. A forma com que se investe neles (pagando por eles) é diretamente proporcional ao grau de seriedade que uma pessoa tem em relação ao seu empreendimento, seu pequeno negócio e sua própria imagem.


(Copyright - Morandini 2008)

PS. Pode reproduzir este texto gratuitamente, tá? Só não esqueça de colocar o link para meu site!


Um comentário:

Amanda Pereira disse...

Ei.... isso é alguma (in)direta???? kkkkkkkk

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